Olho para o teto da minha sala, o que eu não daria agora para estar no meio da aglomeração de rostos e expressões que se contorcem durante todo o dia, mostrando nas variações de humor todas as configurações gravadas nas pastas dos seus corações pseudo-rígidos.
Não, eu não gosto de ficar em casa. Não, eu não gosto de ficar deitada, sou uma alma apressada, frenética, elétrica e quase descompensada que insistiu em residir num corpo vadio, que não gosta de emoção, que não aguenta toda a pressão da minha existência, nem todo o esforço que eu preciso desempenhar durante minha rotina. Meu corpo as vezes para me impossibilitando, me imobilizando e me convertendo em peso morto, e então eu acabo aqui olhando para o teto de algum comodo na minha casa, imaginando, pensando, vagando mentalmente por todos os afazeres que eu deveria estar cumprindo, as minhas responsabilidades que eu deixei de lado, todos os rostos que eu precisei deixar de ver.
Tudo bem que eu volto em pouco tempo, mas todo esse hiato na minha existência me perturba, ficar fora de circulação é uma droga, ainda mais quando você possui uma essência feita de pura ventania como eu, que não se aguenta no mesmo lugar durante muito tempo. Eu preciso, é uma necessidade minha, eu preciso me movimentar, conversar, pensar e pensar e pensar.
Minhas limitações me cansam, ainda na infância me dei conta delas, quando eu não conseguia acompanhar as outras crianças nos jogos de pega-pega. Elas também se faziam presentes nos dias frios em que eu ficava sentada em bancos de hospital, fazendo a inalação e ouvindo os choros fracos de outras crianças doentes. Nos olhos da minha mãe em pânico no dia em que eu fiquei com a garganta fechada, no meu eu sonolento tentando dormir enquanto seu corpo buscava maneiras de o matar sufocado.
Eu não consigo diminuir meu ritmo, nunca consegui. Sou a pressa encarnada desde o útero, quando decidi que bastavam oito meses, fiz minhas malas e zarpei para luz do mundo exterior. Pena que acabei não fazendo aquele reparo nos pulmões, e ganhei uma bronquite em troca da luz do Sol.
Com menos de vinte anos e um histórico de três pneumonias eu me pergunto se um dia corpo e essência irão parar de brigar, e se eu vou conseguir desacelerar o ritmo. Acho que não... maior que minha pressa só minha teimosia.
Geovanna Favilla