Dramas Urbanos

Nota da Autora:
Faz algum tempo que eu não venho ao blog um ano quase, o que é uma verdadeira bosta, mas foi um  quase-ano bem do frenético. Eu pensei varias vezes em escrever, mas algo sempre me impedia e eu precisei mudar minhas prioridades, mas eu voltei, voltei pela necessidade que sinto em escrever e em tocar isso aqui. O blog irá tornar-se bem mais autobiográfico nessa nova fase, o que eu não espero que seja um problema.
Como não produzi "grandes coisa"  esse tempo em que me afastei eu peguei um texto que havia deixado como rascunho e estou lançando-o agora. O fato do texto ocorreu entre Abril e Março de 2013.


Dramas Urbanos


Não costumo fazer drama, não costumo reclamar, detesto que vejam minhas fraquezas (que vejam as minhas franquezas). Sou acostumada a não deixar que encontrem as brechas da minha armadura moral, detesto quando eu exponho algum ponto vital da minha vida a outrem, acredito fielmente que ninguém necessita saber muito mais sobre mim do que o que eu deixo transparecer.
Não sei quando comecei com isso, mas desde muito jovem não consigo ver os outros se preocupando comigo e não me incomodar (não que eu deixe de gostar, pelo contrário), mas é realmente muito comum ao meu ver que eu me preocupe bem mais com os que me são caros do que o oposto ocorrer. Eu prefiro, é uma questão de escolha, eu olho de longe e tento dar uma força, da forma que eu puder sem me intrometer muito com a situação, não se deve confundir a intromissão com a amizade, a amizade é aconselhar o outro e não tentar guiar as rédias da vida alheia.
Me mantenho distante de tudo que me cerca e tenho o mal costume de tentar focalizar a situação por meio de uma ótica neutra, tento me colocar fora do cenário, como se eu fosse um transeunte qualquer que por ali passava. Me chamam de distante por eu ter essa mania de ver tudo de uma perspectiva pseudo-realística, mas isso já se tornou mecânico em mim.
E todos esses artifícios que eu costumo usar para manter minha mente afastada do caos que são as relações humanas caem por terra vez ou outra, geralmente porque eu fico muito doente e só tenho uma alternativa a seguir, expor para alguém o que me aflige e esperar que essa pessoa me ajude (está exposta aqui outra coisa que eu detesto "depender dos outros"), abrindo mão da minha autonomia, das minhas vontades e muitas vezes das minhas responsabilidades. O pior de tudo é que isso é causado por mim mesma, sou eu mesma que não aguento o peso da minha realidade pois vim com os pulmões fodidos da fábrica, e vez ou outra quando eu tento ou preciso de mais gás nos afazeres os pulmões começam a chiar e reclamar e eu acabo tendo que dar um role pelo SUS, passo pelo radiologista e quando volto a falar com o médico tomo um esporro monumental, daqueles que me fazem pensar três vezes antes de levantar a vista, eu vivo com pressa mas meu sistema respiratório não tem como bancar toda essa dinâmica que eu tento impor na minha vida.
Eu literalmente me boicoto, me zoou, e acabo tendo que ficar de molho em uma cama com remédio controlado lutando, contra a pneumonia que já volta pelo segunda vez, meu próprio corpo me tomando por reação alérgica, a deriva, presa, enclausurada numa cela branca e azul, pensando e repensando todos os compromissos que tiveram de ser adiados, em quantas justificativas tem que ser dadas no regresso e em como tudo vai ser mais ou menos controlado no que toca ao meu cotidiano.
Poderia ser pior. Sempre pode ser pior e é provável que piore, como já citei detesto que me tomem como preocupação, detesto ser um peso morto, um empecilho, e mesmo assim eu sempre acabo como um...Talvez seja nosso karma nos transformarmos naquilo que odiamos.

"Esclarecendo o vazio" Capitulo III - Defeitos de Fábrica



Olho para o teto da minha sala, o que eu não daria agora para estar no meio da aglomeração de rostos e expressões que se contorcem durante todo o dia, mostrando nas variações de humor todas as configurações gravadas nas pastas dos seus corações pseudo-rígidos.
Não, eu não gosto de ficar em casa. Não, eu não gosto de ficar deitada, sou uma alma apressada, frenética, elétrica e quase descompensada que insistiu em residir num corpo vadio, que não gosta de emoção, que não aguenta toda a pressão da minha existência, nem todo o esforço que eu preciso desempenhar durante minha rotina. Meu corpo as vezes para me impossibilitando, me imobilizando e me convertendo em peso morto, e então eu acabo aqui olhando para o teto de algum comodo na minha casa, imaginando, pensando, vagando mentalmente por todos os afazeres que eu deveria estar cumprindo, as minhas responsabilidades que eu deixei de lado, todos os rostos que eu precisei deixar de ver.
Tudo bem que eu volto em pouco tempo, mas todo esse hiato na minha existência me perturba, ficar fora de circulação é uma droga, ainda mais quando você possui uma essência feita de pura ventania como eu, que não se aguenta no mesmo lugar durante muito tempo. Eu preciso, é uma necessidade minha, eu preciso me movimentar, conversar, pensar e pensar e pensar.
Minhas limitações me cansam, ainda na infância me dei conta delas, quando eu não conseguia acompanhar as outras crianças nos jogos de pega-pega. Elas também se faziam presentes nos dias frios em que eu ficava sentada em bancos de hospital, fazendo a inalação e ouvindo os choros fracos de outras crianças doentes. Nos olhos da minha mãe em pânico no dia em que eu fiquei com a garganta fechada, no meu eu sonolento tentando dormir enquanto seu corpo buscava maneiras de o matar sufocado.
Eu não consigo diminuir meu ritmo, nunca consegui. Sou a pressa encarnada desde o útero, quando decidi que bastavam oito meses, fiz minhas malas e zarpei para luz do mundo exterior. Pena que acabei não fazendo aquele reparo nos pulmões, e ganhei uma bronquite em troca da luz do Sol.
Com menos de vinte anos e um histórico de três pneumonias eu me pergunto se um dia corpo e essência irão parar de brigar, e se eu vou conseguir desacelerar o ritmo. Acho que não... maior que minha pressa só minha teimosia.

Geovanna Favilla

"Esclarecendo o Vazio" - Capitulo II - Elogio

Um elogio aos que não se importam, os que não dão a mínima importância.
Eu elogio aqueles que passam serenos pelo mundo, sem dar ouvidos ao abismo existencial alheio.
Uma ode a todas as pessoas que não levam em consideração as negativas externas, aos que não se deixam tragar pelo horizonte de eventos melancólicos. 
Aos que não dependem de remédios para manter fria a mente e longe as angústias terrenas.
Àqueles que tranquilamente deslizam sua presença em ondas ritmadas, claras, e como música clareiam a vida de pessoas mais escuras.
Aos simples, honestamente simples, sem tipos, trejeitos, sem personagens criadas para pantomimas cotidianas, e que por isso são livres. Simplesmente livres do caos que os rodeia, a parte, distantes, isolados em sua luminosa essência que hora ou outra minimiza a escuridão que envolve outros.
Um brinde a minha irmã, que jamais lerá ou ouvirá estas palavras.


Geovanna Favilla 

Geovanna Favilla e Ana Ferraz. Tecnologia do Blogger.