Bram Stoker



Bram Stoker nasceu em Dublin, em 8 de novembro de 1847; foi um romancista, poeta e contista, mais conhecido atualmente por seu romance gótico Drácula, a principal obra no desenvolvimento do mito literário moderno do vampiro. A obra é tão famosa que se tornou filme após sua morte.



Nosferatu é um filme alemão de 1922. O roteiro é uma adaptação do romance Drácula, de Bram Stoker, embora com nomes de personagens e lugares alterados, pois os herdeiros do escritor não concederam aos produtores autorização para adaptar a obra. A justiça ordenou a destruição de todas as cópias mas alguns exemplares foram salvos.


O filme teve uma refilmagem em 1979 (Nosferatu: Phantom der Nacht, dirigida por Werner Herzog), que narra a história de Conde Orlok, um vampiro dos Montes Cárpatos que se apaixona perdidamente por Ellen e traz o terror à cidade dela. Nosferatu é considerado um dos primeiros representantes do gênero de terror no cinema, além de sua concepção visual ter exercido forte influência no gênero.

Village: Um lugar que eu chamaria de lar !





Não conheço ninguém que se pudesse não chamaria um local como o Greenwich Village de lar, um pequeno oásis na vastidão selvagem de arranha-céus da cativante Nova Iorque, com charmosos cafés e restaurantes, o Village, como é chamado pelos novaiorquinos, é um bairro que exala arte, em todos os sentidos, desde pintores até comediantes moram no Village.
Além de artistas o Village abriga estudantes, é visitado por boêmios além de ser um tanto atraente a comunidade gay local. Claro que morar um bairro como esse demanda certo poder aquisitivo, sendo habitado principalmente pela classe-média alta da cidade; entretanto esse cenário era bem diferente lá em idos de 1950, ou se quisermos retroceder um pouco mais, por volta da metade do século XIX, quando o Village passou a atrair escritores, intelectuais, músicos e poetas.

 Esse bairro e suas noites de boêmia são resultados de um pequeno povoado de imigrantes e uma destilaria clandestina de cerveja que não passava de um porão esfumaçado pelos cigarros acesos por aqueles que buscavam um pouco mais de liberdade, liberdade para criar, para viver e conviver, um local onde uma contracultura a repressiva e totalitária sociedade norte-americana começou a florescer.

Entre a lista de ilustres que viveram no Village posso citar:

  • O escritor Edgar Allan Poe (durante sua estada lá ele escreveu "The Fall of the House of Usher");
  • O escritor Mark Twain;
  • O escritor Jack London;
  • A escritora Emma Golden;
  • O escritor Upton Sinclair; 
  • O dramaturgo e ganhador do Nobel de Literatura de 1936 Eugene O'Neill;
  • O dadaísta franco-americano Marcel Duchamp;
  • A dançarina Isadora Duncan.
   A beleza existente em viver no Greenwich Village em seus anos dourados não pode ser explicada, entrar em um Café onde poetas declamam suas poesias ao público enquanto grandes nomes da literatura se reúnem para fumar um cigarro e debater idéias, depois esbarrar com um de meus ídolos na rua e entrar em uma taverna para ouvir as grandes vozes do Jazz cantarem suas musicas em protesto contra os abusos da sociedade da época, sair de lá e ir beber com mais vinte ou trinta boêmios que comemoram sem cessar a fortuna que os agraciou ou agraciará em breve, sair meio torto e embriagado, trocar os passos até a porta do meu sobrado, trancar a porta, tirar os sapatos, deitar em minha cama e adormecer ouvindo os sons que embalam agitada noite em Greenwich Village, todas as músicas, vozes, risadas e conversas que se convertem em uma única e embaladora sinfonia.Não posso descrever em palavras o quão feliz eu seria se tivesse vivido lá durante aquela época...

Geovanna Favilla

Stephen King


"Se você se irrita com os críticos, você pode ter certeza de que quase sempre eles estão certos."

Stephen King é simplesmente um dos escritores mais populares de todos os tempos tendo suas obras traduzidas em mais de trinta idiomas de um polo ao outro, conhecido como o Mestre do horror é um gênio, com incríveis livros do gênero suspense e terror.
Vários dos seus livros tornaram-se filmes como por exemplo "O Iluminado", ou "Carrie: A estranha", que ganhará uma nova adaptação em 2013.
Falando em livros, Stephen King já escreveu mais de quarenta romances e duzentos contos, recebendo no ano de 2003 a medalha da National Book Foundation, pela sua grande contribuição à literatura norte-americana, e o prêmio Libris da Canadian Booksellers Association pelo conjunto da obra.

Stephen King
Entre seus mais recentes best-sellers podemos citar a serie de livros "A Torre Negra" (que eu preciso ler desesperadamente),os romances Love – A história de Lisey, À espera de um milagre, Saco de ossos e o livro de contos Ao cair da noite (Outro que entra na minha lista de compras de Natal).
Serie de livros A Torre Negra

Nosso herói vive em Bangor, no estado do Maine, junto com a esposa, a romancista Tabitha King. 




Geovanna Favilla

O Divino Narciso


Narciso era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liriope, e era um jovem de extrema beleza. Porém,à despeito da cobiça que despertava nas ninfas e donzelas, Narciso preferia viver só, pois não havia encontrado ninguém que julgasse merecedora do seu amor. E foi justamente este desprezo que devotava às jovens a sua perdição.
Pois havia uma bela ninfa, Eco, amante dos bosques e dos montes, companheira favorita de Diana em suas caçadas. Mas Eco tinha um grande defeito: falava demais, e tinha o costume de dar sempre a última palavra em qualquer conversa da qual participava.
Um dia Hera, desconfiada - com razão - que seu marido estava divertindo-se com as ninfas, saiu em sua procura. Eco usou sua conversa para entreter a deusa enquanto suas amigas ninfas se escondiam. Hera, percebendo a artimanha da ninfa, condenou-a a não mais poder falar uma só palavra por sua iniciativa, a não ser responder quando interpelada. 
Assim a ninfa passeava por um bosque quando viu Narciso que perseguia a caça pela montanha.
Como era belo o jovem, e como era forte a paixão que a assaltou! Seguiu-lhe os passos e quis dirigir-lhe a palavra, falar o quanto ela o queria... Mas não era possível - era preciso esperar que ele falasse primeiro para então responder-lhe. Distraída pelos seus pensamentos, não percebeu que o jovem dela se aproximara. Tentou se esconder rapidamente, mas Narciso ouviu o barulho e caminhou em sua direção:
- Há alguém aqui?
- Aqui! - respondeu Eco.
Narciso olhou em volta e não viu ninguém. Queria saber quem estava se escondendo dele, e quem era a dona daquela voz tão bonita.
- Vem - gritou.
- Vem! - respondeu Eco.
- Por que foges de mim?
- Por que foges de mim?
- Eu não fujo! Vem, vamos nos juntar!
- Juntar! - a donzela não podia conter sua felicidade ao correr em direção do amado que fizera tal convite.
Narciso, vendo a ninfa que corria em sua direção, gritou:
- Afasta-te! Prefiro morrer do que te deixar me possuir!
- Me possuir... - disse Eco.
Foi terrível o que se passou. Narciso fugiu, e a ninfa, envergonhada, correu para se esconder no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. Evitava o contato com os outros seres, e não se alimentava mais. Com o pesar, seu corpo foi definhando, até que suas carnes desapareceram completamente. Seus ossos se transformaram em rocha. Nada restou além da sua voz. Eco, porém, continua a responder a todos que a chamem, e conserva seu costume de dizer sempre a última palavra.
Não foi em vão o sofrimento da ninfa, pois do alto, do Olimpo, Nêmesis vira tudo o que se passou.
Como punição, condenou Narciso a um triste fim, que não demorou muito a ocorrer.
Havia, não muito longe dali, uma fonte clara, de águas como prata. Os pastores não levavam para lá seu rebanho, nem cabras ou qualquer outro animal a frequentava. Não era tampouco enfeada por folhas ou por galhos caídos de árvores. Era linda, cercada de uma relva viçosa, e abrigada do sol por rochedos que a cercavam. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede.
Narciso debruçou sobre a fonte para banhar-se e viu, surpreso, uma bela figura que o olhava de dentro da fonte. "Com certeza é algum espírito das águas que habita esta fonte. E como é belo!", disse, admirando os olhos brilhantes, os cabelos anelados como os de Apolo, o rosto oval e o pescoço de marfim do ser. Apaixonou-se pelo aspecto saudável e pela beleza daquele ser que, de dentro da fonte, retribuía o seu olhar.
Não podia mais se conter. Baixou o rosto para beijar o ser, e enfiou os braços na fonte para abraçá-lo. Porém, ao contato de seus braços com a água da fonte, o ser sumiu para voltar depois de alguns instantes, tão belo quanto antes.
Porque me desprezas, bela criatura? E por que foges ao meu contato? Meu rosto não deve causar-te repulsa, pois as ninfas me amam, e tu mesmo não me olhas com indiferença. Quando sorrio, também tu sorris, e responde com acenos aos meus acenos. Mas quando estendo os braços, fazes o mesmo para então sumires ao meu contato.
Suas lágrimas caíram na água, turvando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou:
- Fica, peço-te, fica! Se não posso tocar-te, deixe-me pelo menos admirar-te.
Assim Narciso ficou por dias a admirar sua própria imagem na fonte, esquecido de alimento e de água, seu corpo definhando. As cores e o vigor deixaram seu corpo, e quando ele gritava "Ai, ai", Eco respondia com as mesmas palavras. Assim o jovem morreu.
As ninfas choraram seu triste destino. Prepararam uma pira funerária e teriam cremado seu corpo se o tivessem encontrado. No lugar onde faleceu, entretanto, as ninfas encontraram apenas uma flor roxa, rodeada de folhas brancas. E, em memória do jovem Narciso, aquela flor passou a ser conhecida pelo seu nome.
Dizem ainda, que quando a sombra de Narciso atravessou o rio Estige, em direção ao Hades, ela debruçou-se sobre suas águas para contemplar sua figura.
               



Deficiências



Mario Quintana

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino."Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
"Diabético" é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:
"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.
"A amizade é um amor que nunca morre."


Trovas

Trova era no início qualquer  poema recitado pelo trovador.

Atualmente as trovas são poemas compostos por apenas uma estrofe  com quatro versos, sem título.

Um berço que se levanta
Lembra lavoura perfeita:
A vida cultiva a planta,
A morte faz a colheita.
                   José Albano
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Longe de ti eu me sinto
Ave sem pouso e sem lar,
Longe de ti sou apenas
A praia longe do mar.
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Rosa dos ventos me leve
Aos jardins à beira-mar.
Rosas dos tempos me cubram
Se eu nunca mais regressar.
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Enquanto dormes tranquila
Sobre essas fronhas em festa,
A madeira do teu leito
Tem saudade da floresta. 
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O acerto sim amedronta
 mas creio que estamos quites:
Para os meus erros sem conta
Deus tem perdão sem limites.


                                                           
  


                                                               
                                                       


Círculo Vicioso

Machado de Assis
(Rio de Janeiro – 1839-1908)

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
- “Quem me dera que eu fosse aquela loura estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- “Pudesse eu copiar o transparente lume
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- “Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal que toda luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

- “Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vagalume?”

Julgando o livro pela capa



Texto retirado de literatortura.com


Por Gustavo Magnani,

uma matéria bastante interessante e curiosa. Vamos lá:

Você provavelmente já ouviu falar de Cinquenta Tons de Cinza, o romance erótico que virou um tremendo sucesso do dia para a noite.

Apesar de tanta gente ler (e gostar) do livro, nem todos os críticos ficaram impressionados com a qualidade da sua escrita. Ainda assim, é um declarado best-seller que conseguiu arrastar outras literaturas eróticas ao topo com ele.

Brian Brushwood e Justin Young, anfitriões do NSFW Podcast, notaram essa tendência enquanto Brian estava tentando vender seu livro sobre truques de mágica, “Scam School Book 2: Fire”.

Olhando para o gráfico do iTunes, eles perceberam que o top 10 de livros mais vendidos era formado inteiramente por ficção erótica.

A primeira coisa que pensaram? “Nós poderíamos fazer isso”. E é assim que um experimento inteligente começou.

Eles pediram para seus ouvintes enviá-los capítulos do livro, com um personagem principal e muitas cenas de sexo mal escritas. Entã,o eles reuniram os capítulos, criaram uma capa muito parecida com a de Cinquenta Tons de Cinza, atribuíram o livro a uma escritora ficcional (Patricia Harkins-Bradley), e o postaram no iTunes por 0.99dólares (cerca de R$ 2).

Eles pediram a seus leitores para comprá-lo, e assim empurrá-lo um pouco nos gráficos, e aguardaram. Intitulado “The Diamond Club” (O clube do diamante, em português), o livro completamente escrito pela internet com um roteiro bagunçado e incoerente subiu para a 4ª posição de mais vendido no iTunes.

Por quê? Porque tinha uma capa inspirada em Cinquenta Tons de Cinza, personagens com trabalhos característicos que podem ser considerados “na moda”, como designer de cupcake, blogger, etc, e muito, mas muito sexo.

Isso é o suficiente para transformar um livro em um best-seller? Sim. Mesmo com as opiniões ruins de quem realmente leu o livro, só porque ele se parecia com qualquer outro romance erótico, vendeu como bala. Alegadamente, a dupla já ganhou mais de $20.000 (cerca de R$ 40 mil) com o romance.

Esta não é a primeira vez que algo do tipo aconteceu. Em 1969, 24 jornalistas escreveram um romance (Naked Came the Stranger) cheio de sexo com uma trama incoerente, má escrita, diálogo sem sentido e mais um pouco de sexo, só para provar o quão profundo a cultura literária americana tinha afundado. E nem precisou que a internet os ajudasse: o livro também se tornou um best-seller.[retirado de Hype Science]

*****

Diferente da matéria, não sei se isso prova, necessariamente, a questão da capa [a não ser que ela tenha um sentido mais amplo, e não tão literal]. Até porque, já vi especialistas falando sobre a importância da capa em e-book, afirmando que outras coisas chamam mais atenção. Ainda assim, é um experimento altamente válido que me intrigou muito. Lembrou-me, também, de um episódio de Family Guy, onde o Brian – o cachorro – escreveu um livro de autoajuda completamente insano, dando espaço para seus leitores escreverem dentro do livro quais eram seus sonhos etc etc etc. Tudo na brincadeira e na experimentação. Aconteceu, então, que a obra virou um best seller. Difícil não fazer a ligação.

O caso, ao meu ver, prova mais que somos altamente influenciados pelas modas que estão sendo ditadas, do que necessariamente pela capa. Foi todo um conjunto que influenciou os compradores do livro. Desde a capa, à trama, à venda crescente, ao título. O que, para mim, não desmerece o experimento. Pelo contrário, vai muito além do que talvez tenha sido proposto inicialmente.

Também praticamente deteriora um argumento bastante usado por leitores de determinados best sellers “se vendeu muito é porque tem algo de bom”. Quem acompanha o literatortura, sabe que não sou nem um pouco “elitista de livros” – adjetivação ao qual acho extremamente injusta, mesmo com aqueles que odeiam essas obras -, vejo pontos positivos em livros muito famosos como Crepúsculo e outros. Mas, também já evidenciei que, ao meu ver, os méritos literários de tais obras são bastante questionáveis, que nem por isso devem ser execradas e condenadas.

Esse é um dado científico bastante interessante de apresentar: Clube do Diamante, uma porcaria de livro, que só apresenta sexo e uma trama propositalmente confusa e ruim, vendeu muito. Claro, isso não prova, jamais, que todo best seller é uma porcaria. Mas também prova que “ser o mais vendido”, não significa, necessariamente, algo a mais. Apenas que a obra é a mais vendida. Diferente do que muitos gostam de afirmar, não existe nenhuma correlação absoluta entre qualidade e mais vendidos. Nem para baixo [livro ruim], nem para cima [livro bom]. Os fatores de serem mais vendidos vão muito além de um livro ser bom ou ruim. Ainda que, infelizmente, acredito – sem nenhuma pesquisa científica, ou dados técnicos – que a maioria dos livros das listas sejam bastante simplórios e rasos – o que é muito diferente de ter um história simples etc.
                                                                ******
E vocês meus caros leitores, o que pensam sobre tudo isso?

Indicações

Caros leitores,
Para você que é fã de contos de terror ou suspense, ou mesmo para você que procura bons contos e se interessou pelo texto "Passos"(Paulo Sutto) estou indicando o site Recanto das letras. Nele você poderá conhecer mais trabalhos deste escritor. http://www.recantodasletras.com.br/autores/paulosutto.

Passos


Desde quando me conheço por gente, esses passos me perseguem. Me lembro de quando eu ia para escola, o medo a me acompanhar pelas ruas, onde o som daqueles passos me seguiam.
Eu sempre tive medo de olhar para trás, sabia que não veria ninguém, mas sentia que alguém ou algo me seguia.
Eram sempre os mesmos, era de homem, pelo barulho aparentava ser uma pessoa pesada, eram passos firmes, fortes e mantinham sempre a mesma distância. Sempre.
Durante algum tempo, uns 6 ou 7 anos não ouvi mais os passos. Que alívio poder caminhar e saber que está sozinho. Livre. Sem ser perseguido.
Mas...
Como tudo o que é bom dura pouco, há uma semana quando voltava para casa após o trabalho, passando por uma rua escura e cheia de becos, eis que começo novamente a ouvir os passos, a princípio pensei ser alguma pessoa que também seguia pelo mesmo caminho que eu.
Não me preocupei e segui em frente.
Porém, após algum tempo e vários metros caminhados, apurei meus ouvidos e tive a certeza de que eram os mesmos passos que me acompanharam durante tanto tempo.
O medo que senti quando jovem voltou a tomar conta de meu ser.
Andei mais rápido, apesar de saber que ele também apressaria seus passos.
Eu sabia que não havia como fugir, as não ser para dentro de minha casa. Não sei se comentei isso, mas o som dos passos sempre me seguia até a porta de minha casa, sempre foi assim.
Talvez ele ficasse sentado do lado de fora, pois era só eu sair e voltava a ouvir os passos.
Frequentei psicólogos e psiquiatras, passei tempos internado em hospitais psiquiátricos, mas nada disso resolveu o problema.
E agora depois de um bom tempo, os passos estavam de volta.
Ou seria algo de minha cabeça? Apenas eu ouvia. Eu sabia que isso iria me levar à loucura.
Há 3 noites atrás, para meu desespero, notei que os passos agora não eram apenas de uma pessoa, haviam mais deles, homens e mulheres, talvez até crianças.
Afinal o que eles queriam comigo?
Tenho passado quase todo o tempo fechado em meu apartamento. Só saio quando extremamente necessário.
Posso senti-los lá fora.
Ouço algumas vozes agora também. Falam o tempo todo.
Sei que estão me espionando o tempo todo, posso ver seus vultos pela janela.
Vou acabar ficando louco, vou perder o resto de sanidade que me resta.
Agora eles batem na porta.
Faz uma semana que não saiu do apartamento, não aguento mais comer pizza.
Amanhã vou sair, vou enfrentar meus medos, meus fantasmas e vou sair.
Eles não existem, os passos e vozes estão dentro de minha cabeça.
Sim, isso, são só uma fantasia criada em meu subconsciente.
Essa noite eu dormi muito bem, nenhum barulho no corredor, nenhuma voz....
Vou sair. Já está na hora. 10:00 hs da manhã e um sol bonito lá fora.
Crio coragem e abro a porta ainda tremendo e com o coração disparado.
Saio no corredor. Olho para os dois lados. O corredor está vazio, como eu esperava,
Começo a andar em direção às escadas. De repente ouço vozes e passos,
Mas o som que ouço são de muitos passos. E as vozes? Parece uma multidão falando ao mesmo tempo.
Risos, choros e gemidos.
Me arrepio inteiro. São apenas imaginação. Nada está lá. Não existe nada.
Mas preciso me virar para confirmar que não hã ninguém atrás de mim.
Viro-me lentamente. O medo tomando conta de mim. Estou suando frio.
O que vejo me deixa em estado de choque. Meus olhos nunca viram uma criatura como aquela. Era uma aberração com uma série de pés e uma cabeça enorme com muitas bocas falando ao mesmo tempo, e muitos olhos a me olharem.
O medo que senti é inexplicável.
Fiquei ali parado vendo a criatura horrenda caminhando para pero de mim, seus olhos fixos me olhando.
Eu parecia hipnotizado.
A criatura se aproximando cada vez mais.
De repente consigo me mexer e sigo andando de costas até encontrar a escada e me desequilibrar, caindo vários lances até me espatifar no chão.
E para meu espanto a criatura continuou caminhando e descendo as escadas.
Comecei a gritar, mas minha voz parecia não sair. O ser esboçou um sorriso assustador.
Quando percebi que ele se jogava sobre mim tomando impulso do alto da escada, gritei novamente.
Nesse instante apareceram algumas pessoas que devem ter ouvido o barulho que fiz ao cair da escada.
Quando olhei para o topo da escada não vi mais nada.
Apenas eu estava lá, estendido no chão e alguns vizinhos tentando me ajudar.
O que era aquilo? O que queria de mim? Para onde foi?
Infelizmente, ou felizmente não tenho as respostas.
Fui socorrido e levado para o hospital.
Há um bom tempo não tenho ouvido nada.
Estou internado nesse hospital de primeira classe.
Tenho acompanhamento médico. Enfim, estou bem.
Apenas não tenho muito interesse em sair para passear pelas ruas da cidade...
Aqui estou em segurança.
Por falar nisso, vou para meu quarto, é hora do descanso da tarde.
Aliás, acho que todos foram para seus quartos, tudo está vazio aqui.
Enfermagem?  Enfermagem...
Enfermeiro? É você?  Caminhando atrás de mim?
É você?

Paulo Sutto

Annelise Michel - A verdadeira história de Emily Rose

Emily Rose foi em realidade uma jovem alemã chamada Anneliese Michel que desde seu nascimento em 21 de setembro de 1952, desfrutava de uma vida normal sendo educada religiosamente desde muito pequena. No entanto, sem advertência sua vida mudou de uma hora para outra quando em um dia do ano de 1968 começou a tremer e se deu conta de que não tinha controle sobre seu próprio corpo. Não conseguiu chamar seus pais, Josef e Anna, nem a nenhuma de suas três irmãs. Um neurologista da Clínica Psiquiátrica de Wurzburg, Alemanha, a diagnosticou com o "grande mau" da epilepsia. Devido aos fortes ataques epilépticos e à depressão seguinte, Anneliese foi internada para tratamento no hospital.
Pouco depois de começar os ataques, Anneliese começou a ver imagens diabólicas durante suas orações diárias. Era outono de 1970, e enquanto os jovens desfrutavam das liberdades da época, Anneliese estava atormentada com a ideia de estar possuída, parecia não ter outra explicação às imagens que apareciam enquanto rezava.Como se não fosse o bastante, vozes começaram a perseguir a moça dizendo-lhe que ela ia "arder no fogo do inferno". Ela mencionou estes "demônios" aos médicos só uma vez, explicando que eles haviam começado a lhe dar estas ordens. Alguns médicos consideraram loucura, outros zombaram em silêncio e o restante se mostraram incapazes de ajudá-la; Anneliese perdeu as esperanças de que a medicina pudesse ajudá-la.
Começaram as buscas por ajuda de religiosos. No verão de 1973 seus pais visitaram diferentes pastores e padres solicitando um exorcismo. Seus pedidos foram recusados e recomendaram que Anneliese, agora com 20 anos, devia seguir com seu tratamento médico. A explicação dada é que o processo pelo qual a igreja comprovava uma possessão era muito restrito, e até que todos os aspectos não estivesses explicados, o bispo não podia aprovar um exorcismo. Era requerido que alguns fatos já tivessem acontecidos como, por exemplo, aversão por objetos religiosos, falar em idiomas que a pessoa não conhecesse e poderes sobrenaturais.
Em 1974, após ter supervisionado Anneliese por algum tempo, o pastor Ernst Alt solicitou permissão para realizar um exorcismo ao Bispo de Wurzburg. A solicitação foi recusada e seguida de uma recomendação de que Anneliese devia receber um estilo de vida mais religioso com o propósito de que encontrasse a paz. Os ataques não diminuíram, senão que sua conduta se tornou bem mais errática.
Na casa de seus pais em Klingenberg, insultava, batia e mordia os outros membros da família. Recusava-se a comer porque os demônios proibiam-na. Dormia no piso gelado, comia aranhas, moscas e carvão, e tinha começado a beber sua própria urina. A vizinhança toda escutava Anneliese gritar por horas enquanto quebrava os crucifixos que encontrava pela frente, destruía pinturas com a imagem de Jesus. Até que iniciou a cometer atos de auto mutilação e a andar nua pela casa fazendo suas necessidades independente do lugar onde estivesse.
Depois de verificar "in loco" de que realmente algo muito estranho acontecia com a moça em setembro de 1975, o Bispo de Wurzburg, Josef Stangl, ordenou ao Padre Arnold Renz e ao Pastor Ernst Alt a praticar um "grande exorcismo" baseado no "Rituale Romanum" com Anneliese. Determinou que ela devia ser salva de vários demônios, incluindo Lúcifer, Judas Iscariotes, Nero, Caim, Hitler e Fleischmann, um curandeiro do Século XVI, e algumas outras almas atormentadas que se manifestavam através dela.
Entre setembro de 1975 até julho de 1976 praticaram uma ou duas sessões de exorcismo por semana, os ataques de Anneliese eram tão fortes às vezes que precisava ser segurada por três homens e inclusive tiveram que amarrá-la algumas vezes. Durante este tempo, Anneliese regressou a uma vida, até certo ponto, normal. Fez os exames finais da Academia de Pedagogia de Wurzburg e ia regularmente à igreja.
Os ataques, no entanto, não pararam. De fato, paralisava-lhe o corpo e caía inconsciente pouco depois. O exorcismo continuou por muitos meses, sempre com as mesmas orações e esconjuros. Por várias semanas Anneliese recusou-se a comer e seus joelhos sangravam pelas 600 flexões que fazia obsessivamente durante a cada sessão. Foram feitas mais de 40 gravações durante o processo com o propósito de preservar os detalhes.
O último dia do rito do exorcismo foi em 30 de junho de 1976, quando Anneliese já sofria de pneumonia, havia emagrecido bastante e estava com uma febre muito alta. Exausta e fisicamente incapacitada para fazer as flexões por sua própria conta, seus pais aparavam e ajudavam-na com os movimentos. A última coisa que Anneliese disse a seus exorcistas foi:
- "... por favor, roguem pelo meu perdão" e virando-se e recostando a cabeça no ombro da mãe disse:

- "Mamãe estou com medo". Anna Michel fotografou a morte de sua filha no dia seguinte, era primeiro de julho de 1976 exatamente ao meio dia.

As imagens da diferença entre o começo de sua luta contra esse mal e o final de sua trágia história são no mínimo assustadoras, devido ao seu esgotamento pouco antes da morte.
Antes:

A verdadeira história de Emily Rose




















Depois:
A verdadeira história de Emily Rose

O Barril de "Amontillado"


    Suportei o melhor que pude as mil e uma injúrias de Fortunato; mas 
quando começou a entrar pelo insulto, jurei vingança. Vós, que tão bem 
conheceis a natureza da minha índole, não ireis supor que me limitei a 
ameaçar. Acabaria por vingar-me; isto era ponto definitivamente assente, 
e a própria determinação com que o decidi afastava toda e qualquer idéia 
de risco. Devia não só castigar, mas castigar ficando impune. Um agravo 
não é vingado quando a vingança surpreende o vingador. E fica 
igualmente por vingar quando o vingador não consegue fazer-se 
reconhecer como tal àquele que o ofendeu. 
    Deve compreender-se que nem por palavras, nem por atos, dei 
motivos a Fortunato para duvidar da minha afeição. Continuei, como era 
meu desejo, a rir-me para ele, que não compreendia que o meu sorriso 
resultava agora da idéia da sua imolação. 
    Tinha um ponto fraco, este Fortunato sendo embora, sob outros 
aspectos, homem digno de respeito e mesmo de receio. Orgulhava-se da 
sua qualidade de entendido em vinhos. Poucos italianos possuem o 
verdadeiro espírito de virtuosidade. Na sua maior parte, o seu 
entusiasmo é adaptado às circunstâncias de tempo e de oportunidade 
para ludibriar milionários britânicos e austríacos. Em pintura e pedras 
preciosas, Fortunato, à semelhança dos seus concidadãos, era um 
charlatão, mas na questão de vinhos era entendido. Neste aspecto eu 
não diferia substancialmente dele: eu próprio era entendido em vinhos de 
reserva italianos, e comprava-os em grandes quantidades sempre que 
podia. 
    Foi ao escurecer, numa tarde de grande loucura da quadra 
carnavalesca, que encontrei o meu amigo. Acolheu-me com excessivo 
calor, pois bebera de mais. Trajava de bufão; um fato justo e 
parcialmente às tiras, levando na cabeça um barrete cônico com guizos. Fiquei tão contente de o ver que julguei que nunca mais parava de lhe 
apertar a mão. 
- Meu caro Fortunato - disse eu -, ainda bem que o encontro. Você tem 
hoje uma aparência notável! Saiba que recebi um barril de um vinho que 
passa por ser amontillado; mas tenho cá as minhas dúvidas. 
- O quê? - disse ele - Amontillado? Um barril? Impossível! E em pleno 
Carnaval! 
- Tenho as minhas dúvidas - respondi -, e estupidamente paguei o 
verdadeiro preço do amontillado sem ter consultado o meu amigo. Não o 
consegui encontrar e tinha receio de perder o negócio! 
- Amontillado! 
- Tenho as minhas dúvidas - insisti. 
- Amontillado! 
- E tenho de as resolver. 
- Amontillado! 
- Como vejo que está ocupado, vou procurar Luchesi. Se existe alguém 
com espírito crítico, é ele. Ele me dirá. 
- Luchesi não distingue amontillado de xerez. 
- No entanto, há muito idiota que acha que o seu gosto desafia o do meu 
amigo. 
- Venha, vamos lá. 
- Aonde? 
- À sua cave. 
- Não, meu amigo, não exigiria tanto da sua bondade. Vejo que tem 
compromissos. Luchesi... 
- Não tenho compromisso nenhum, vamos. 
- Não, meu amigo. Não será o compromisso, mas aquele frio terrível que 
bem sei que o aflige. A cave é insuportavelmente úmida. Está coberta de 
salitre. 
- Mesmo assim, vamos lá. O frio não é nada. Amontillado! Você foi 
ludibriado. E quanto a Luchesi, não distingue xerez de amontillado. 
    Assim falando, Fortunato pegou-me pelo braço. Depois de pôr uma 
máscara de seda preta e de envergar um roquelaire cingido ao corpo, 
tive que suportar-lhe a pressa que levava a caminho do meu palacete. 
    Não havia criados em casa; tinham desaparecido todos para festejar 
aquela quadra. Eu tinha-lhes dito que não voltaria senão de manhã e 
dera-lhes ordens explícitas para se não afastarem de casa. Ordens 
essas que foram o suficiente, disso estava eu certo, para assegurar o 
rápido desaparecimento de todos eles, mal voltara costas. 
    Retirei das arandelas dois archotes e, dando um a Fortunato, conduzio através de diversos compartimentos até à entrada das caves. Desci uma grande escada de caracol e pedi-lhe que se acautelasse enquanto 
me seguia. Quando chegamos ao fim da descida encontrávamo-nos 
ambos sobre o chão úmido das catacumbas dos Montresors. 
    O andar do meu amigo era irregular e os guizos da capa tilintavam 
quando se movia. 
- O barril? - perguntou. 
- Está lá mais para diante - disse eu -, mas veja a teia branca de aranha 
que cintila nas paredes da cave. 
Voltou-se para mim e pousou nos meus olhos duas órbitas enevoadas 
pelos fumos da intoxicação. 
- Salitre? - perguntou por fim. 
- Sim - respondi. - Há quanto tempo tem essa tosse? 
- Cof!, cof!, cof! cof!, cof!, cof! 
O meu amigo ficou sem poder responder-me durante bastante tempo. 
- Não é nada - acabou por dizer. 
- Venha - disse-lhe com decisão. - Retrocedamos, a sua saúde é 
preciosa. Você é rico, respeitado, admirado, amado; você é feliz como eu 
já o fui em tempos. Você é um homem cuja falta se sentiria.               
Quanto a mim, não importa. Retrocedamos. Ainda é capaz de adoecer e 
não quero assumir tal responsabilidade. Além disso, há Luchesi... 
- Basta! - replicou. - A tosse não é nada, não me vai matar. Não vou 
morrer por causa da tosse. 
- Pois decerto que não, pois decerto - respondi -; não é minha intenção 
alarmá-lo desnecessariamente, mas deve usar de cautela. Um gole deste 
médoc defender-nos-á da umidade. 
    Quebrei o gargalo de uma garrafa que retirei de uma longa fila de 
muitas outras iguais que jaziam no bolor. 
- Beba - disse, apresentando-lhe o vinho. 
Levou-o aos lábios, olhando-me de soslaio. Fez uma pausa e abanou a 
cabeça significativamente, enquanto os guizos tilintavam. 
- Bebo - disse - aos mortos que repousam à nossa volta. 
- E eu para que você viva muito. 
    Novamente me tomou pelo braço e prosseguimos. 
- Estas catacumbas são enormes - disse ele. 
- Os Montresors - respondi - constituíam uma família grande e numerosa. 
- Não me lembro do vosso brasão. 
- Um enorme pé humano, de ouro, em campo azul; o pé esmaga uma 
serpente rastejante cujas presas estão ferradas no calcanhar. 
- E a divisa? 
- Nemo me impune lacessit(1)
- Ótimo! - disse ele.     O vinho brilhava no seu olhar e os guizos tilintavam. A minha própria 
disposição melhorara com o médoc. Tinha passado por entre paredes de 
ossos empilhados, à mistura com barris e barris, nos mais recônditos 
escaninhos das catacumbas. Parei novamente e desta vez fiz questão de 
segurar Fortunato por um braço, acima do cotovelo. 
- Salitre! - disse eu -, veja como aumenta. Parece musgo nas abóbadas. 
Estamos sob o leito do rio. As gotas de umidade escorrem por entre os 
ossos. Venha, vamo-nos embora que já é muito tarde. A sua tosse... 
- Não faz mal - retorquiu -, continuaremos. Antes, porém, mais um trago 
de rnédoc. 
Abri e passei-lhe uma garrafa de De Grâve. Despejou-a de um trago. Os 
olhos brilharam-lhe com um fulgor feroz. Riu e atirou a garrafa ao ar, com 
uns gestos que não entendi. 
Olhei-o surpreso. Repetiu o movimento grotesco. 
- Não compreende? 
- Não, não compreendo - respondi. 
- Então não pertence à irmandade. 
- Como? 
- Quero eu dizer que não pertence à Maçonaria. 
- Sim, sim - disse -, sim, pertenço. 
- Você? Impossível! Um maçon? 
- Sim, um maçon - respondi. 
- Um sinal - disse ele. 
- Aqui o tem - retorqui, mostrando uma colher de pedreiro que retirei das 
dobras do meu roquelaire. 
- Está a brincar - exclamou, recuando alguns passos. - Mas vamos lá ao 
amontillado. 
- Assim seja - disse eu, tornando a colocar a ferramenta sob a capa e 
tornando a oferecer-lhe o meu braço. Apoiou-se nele pesadamente. 
Continuamos o nosso caminho em procura do amontillado. Passamos 
por uma série de arcos baixos, descemos, atravessamos outros, 
descemos novamente e chegamos a uma profunda cripta na qual a 
rarefação do ar fazia com que os archotes reluzissem em vez de arderem 
em chama. 
    No ponto mais afastado da cripta havia uma outra cripta menos 
espaçosa. As paredes tinham sido forradas com despojos humanos, 
empilhados até à abóbada, à maneira das grandes catacumbas de Paris. 
Três das paredes desta cripta interior estavam ainda ornamentadas 
desta maneira. Na quarta parede, os ossos tinham sido derrubados e 
jaziam promiscuamente no solo, formando num ponto um montículo de 
certo vulto. Nessa parede assim exposta pela remoção dos ossos, percebia-se um recesso ainda mais recôndito, com um metro e vinte 
centímetros de fundo, noventa centímetros de largo e um metro e oitenta 
a dois metros e dez de alto. Parecia não ter sido construído com 
qualquer fim específico, constituindo apenas o intervalo entre dois dos 
colossais suportes do teto das catacumbas, e era limitado, ao fundo, por 
uma das paredes circundantes em granito sólido. 
    Foi em vão que Fortunato, levantando o seu tíbio archote, tentou 
sondar a profundidade do recesso. A enfraquecida luz não nos permitia 
ver-lhe o fim. 
- Continue - disse eu -, o amontillado está aí dentro. Quanto a Luchesi... 
- É um ignorante - interrompeu o meu amigo, enquanto avançava, 
vacilante, seguido por mim. Num instante atingira o extremo do nicho, e 
vendo que não podia continuar por causa da rocha, ficou estupidamente 
desorientado. Um momento mais e tinha-o agrilhoado ao granito. Havia 
na parede dois grampos de ferro, distantes um do outro, na horizontal, 
cerca de sessenta centímetros. De um deles pendia uma pequena 
corrente e do outro um cadeado. Lançar-lhe a corrente em volta da 
cintura e fechá-la foi obra de poucos segundos. Ficara demasiado 
surpreendido para oferecer resistência. Retirei a chave e recuei. 
- Passe a mão pela parede - disse eu. - Não deixará de sentir o salitre. 
Na realidade está muito úmido. Mais uma vez lhe suplico que nos 
retiremos. Não lhe convém? Nesse caso, tenho realmente de o deixar. 
Mas, primeiro, quero prestar-lhe todas as pequenas atenções ao meu 
alcance. 
- O amontillado! - berrou o meu amigo, que se não recompusera ainda do 
espanto em que se encontrava. 
- É verdade - respondi. - O amontillado. 
    Ao dizer isto, pus-me a procurar com todo o afã por entre as pilhas de 
ossos de que já falei. Atirando com eles para o lado, pus a descoberto 
uma quantidade de pedras e argamassa. Com estes materiais e com a 
ajuda da minha colher de pedreiro, comecei a entaipar com todo o vigor a 
entrada do nicho. 
Mal tinha colocado a primeira fiada de pedras quando descobri que a 
embriaguez de Fortunato tinha em grande parte desaparecido. A este 
respeito, o primeiro indício foi-me dado por um longo gemido vindo da 
profundidade do recesso. Não era o gemido de um ébrio. Sucedeu-se um 
prolongado e obstinado silêncio. Pus a segunda fiada de pedras, a 
terceira e a quarta. Em seguida ouvi as vibrações furiosas da corrente. O 
ruído prolongou-se por alguns minutos, durante os quais, para me ser 
possível ouvi-lo com maior satisfação, suspendi a minha tarefa e senteime no montículo de ossos. Quando finalmente cessou o tilintar, retomei a colher de pedreiro e completei sem interrupção a quinta, a sexta e a 
sétima fiadas. A parede estava agora quase ao nível do meu peito. Parei 
novamente e, elevando o archote acima do parapeito, fiz incidir alguns 
raios de luz sobre a figura que lá estava dentro. 
    Uma sucessão de gritos altos e agudos, irrompendo de súbito da 
garganta da figura agrilhoada, quase me atirou violentamente para trás. 
Por um breve momento hesitei, tremi. Desembainhei o florete e com ele 
comecei a tatear o recesso, mas bastou pensar um momento para voltar 
a sentir-me seguro. Coloquei a mão sobre a sólida construção das 
catacumbas e fiquei satisfeito. Tornei a aproximar-me da parede. 
Respondi aos gritos daquele que clamava. Repeti-os como um eco, 
juntei-me a eles, ultrapassei-os em volume e força. Depois disto, o outro 
sossegou. 
    Era agora meia-noite e a minha tarefa aproximava-se do fim. 
Completara já a oitava, a nona e a décima fiadas. Tinha acabado uma 
porção da décima primeira e última; faltava apenas colocar e fixar uma 
pequena pedra. Lutava com o seu peso; coloquei-a parcialmente na 
posição que lhe cabia. Soltou-se então do nicho um riso abafado que me 
arrepiou os cabelos. Seguiu-se uma voz triste que tive dificuldade em 
reconhecer como sendo a do nobre Fortunato. Dizia aquela voz: 
- Ah!, ah!, ah!, he!, he!, boa piada, de fato, excelente gracejo. Havemos 
de rir bastante acerca disto, lá no palácio, he!, he!, he!, acerca do nosso 
vinho, he!, he!, he! 
- O amontillado? - disse eu. 
- he!, he!, he!, he!, he!, he!, sim, o amontillado. Mas não estará a fazer-se 
tarde? Não estarão à nossa espera no palácio lady Fortunato e os 
convidados? Vamo-nos embora. 
- Sim - disse eu -, vamo-nos. 
- Pelo amor de Deus, Montresor! 
- Sim - disse eu -, pelo amor de Deus! 
Em vão esperei uma resposta a estas palavras. Comecei a ficar 
impaciente. Chamei em voz alta: 
- Fortunato! 
Não obtive resposta. Chamei novamente: 
- Fortunato! 
    Continuei sem resposta. Meti um archote pela pequena abertura e 
deixei-o cair lá dentro. Em resposta ouvi apenas um tilintar de guizos. 
Senti o coração oprimido, dada a forte umidade das catacumbas. 
Apressei-me a pôr fim à minha tarefa. Forcei a última pedra no buraco, e 
fixei-a com a argamassa. De encontro a esta nova parede tornei a 
colocar a velha muralha de ossos. Durante meio século nenhum mortal os perturbou. In pace requiescat!(2)

                                                                                        Edgar Allan Poe
Notas:
1 Ninguém me fere impunemente.
2 Descanse em paz!
                               

Geovanna Favilla e Ana Ferraz. Tecnologia do Blogger.